A Era do sufoco

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

I'm sure I shall always feel like a child in the wood.  L.M. Montgomery Anne of Avonlea  #wizdomly #m_eye_nd

O que fazemos com a pressão a que nos sujeitam no dia a dia? Enfiamo-la no bolso das calças? Atiramo-la ao ar à espera que se dissipe?

Desde pequeninos que nos ensinam que temos que ir à escola para aprender, e para um dia conseguirmos um bom emprego e sermos alguém na vida.
Aprendemos que temos que respeitar os mais velhos e que temos que ter maneiras à mesa. Que temos que juntar muito dinheiro para termos uma boa casa, que temos que encontrar alguém com quem casar e ter filhos. Que se não for para ser senhor doutor ou engenheiro, então de nada servirá outro percurso. Que temos que andar informados sobre as catástrofes que existem pelo mundo fora, lendo os jornais ou vendo o noticiário todas as noites, mesmo depois de um dia cansativo. Que temos que saber cozinhar a sopa da avó e ter cuidado para não usarmos vermelho nas unhas ou no batom, não vão eles pensar que a mulher é uma oferecida. Embora isso, já tenha sido noutros tempos. 

A própria sociedade hoje em dia, ensina-nos que temos que sobrevalorizar as aparências e fazer delas prioridade. Que por pouco dinheiro que tenhamos só nos vamos encaixar na sociedade se tivermos a última gama em smartphones e se nos vestirmos segundo o que se usa naquela determinada semana. Que não podemos ter pêlos à vontade - não, nem mesmo os homens - senão somos considerados australopitecos. Que podemos ter filhos à vontade de pessoas diferentes e que podemos casar uma dúzia de vezes. Que o descarte é natural, seja de pessoas, animais, roupas ou até a essência. 

O mundo está a ruir, e nós também. A dor nas costas é muita segundo o peso das escolhas que fazemos a cada momento. Somos "obrigados" a escolher um curso superior assim que saímos do secundário, não vão os anos passar depressa demais e tirar um curso aos 30 já é loucura. Assim como somos "obrigados" a exercer o papel de clones da sociedade, de toda a gente ser como toda a gente, e nem uma ponta de coisa diferente. 

É a era do sufoco, das mãos em volta da garganta sem deixar que respiremos, não vamos nós fazer escolhas erradas e desiludir o mundo. 

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  1. O que me incomoda mais é mesmo o facto de qualquer coisa hoje em dia, principalmente o que se lê por aí, tem uma concepção influenciativa. Hoje em dia não existem apenas opiniões. Hoje em dia as pessoas usam a sua opinião para impor, à força, as suas ideologias aos outros. E incomoda-me ainda mais a maneira sublime com que é feito, "como quem dá aquela palha"! E o facto de ser algo tão intrínseco e quase invisível molda-nos mesmo o pensamento sem darmos por ela - quando damos já é tarde demais!
    Toda esta pressão que nos é imposta no dia a dia é uma ironia dos diabos, que sinceramente me faz rir sem parar porque somos nós que nos impomos, uns aos outros, esta pressão estúpida. Mas "Less is more", tenho dito! Deixem-se de julgamentos porque nunca sabemos o nosso futuro, podemos estar a ir no mesmo caminho que os outros! E depois? Aí já vamos gostar que não façam o que fizemos aos outros! A sociedade precisa de pessoas encorajadoras, porque críticos já temos demasiados.

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  2. É tão isto... O sentir que não nos podemos desviar da rota, como se fôssemos todos iguais e tivéssemos de seguir o mesmo caminho.
    Felizmente, há os corajosos, os que desiludem o mundo, mas lutam por si e acho que é isso que faz falta, mais pessoas a acreditar nas suas capacidades, a deixarem de lado as críticas e a seguir o caminho que julgam ser o certo para elas. E se não for? Volta-se para trás, como daquela vez que me enganei e não saí na saída correta da autoestrada. Que importa? Mais tarde ou mais cedo chegaremos.
    O importante é quebrar as "regras" e ser genuíno.

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  3. Pior de tudo é não conseguirmos ver que desiludir o mundo é tão menos importante do que desiludir-nos a nós próprios, achando que isso nunca acontecerá, quando na verdade já acontece há uns bons tempos, sem darmos quase conta, traduzindo-se numa inquietação sempre presente cá dentro...
    Beijinho, querida Joana*

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  4. É muita coisa. É muita coisa para nos preocupar e o pior é quando isso nos impede de viver à nossa maneira. Quando nos inibe de pensar por nós e quando nos bloqueia. Não deixes que as convenções sociais sejam mais fortes do que tu. Pegando na tua última frase...Se formos genuínos já quebramos as regras! Um beijinho.

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