Amor por plantas? Desde quando?!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Devil's ivy plant

O amor às plantas. A todos os organismos vivos que vivem pelo sol vagarosamente e se alimentam de energias, são pedaços de natureza incríveis, que nem todos compreendem, como eu. Até agora.

Quando era criança, sempre vi que toda a senhora tinha em casa plantas infindáveis que nem dava para se ver o que as janelas queriam mostrar. Eram vasos em cima de vasos, folhas de todos os tons de verde e, algumas, chegavam a ser muito maiores que eu. Quando já não havia espaço para colocar vasos no chão, olhava para cima e lá estavam mais, vasos suspensos!  - A sério? - Pensava eu. Embora os achasse bonitos. E ainda, assim que saía de casa, lá estavam mais vasos pelas escadas abaixo. Para quê tantos?

Foi uma pergunta que me ecoava conforme ia crescendo: porquê ter plantas? E porquê tantas?! Na minha cabecinha olhava para elas como se fossem apenas uma jarra para enfeitar, uma vez que elas não se mexiam, não faziam qualquer som, não serviam para nada. E, como todas as crianças, chegava a arrancar bocadinhos para brincar, até que a minha avó me dizia "Não faças isso, filha! As plantinhas sentem e choram." Eu ficava naquela a olhar para elas do género "Ai é?". Assim que a minha avó me via a arrancar bocados das plantas, passava com as mãos pelas folhas devagar como quem faz festas a um gato e falava com elas. Falava sempre com elas. Cantava-lhes canções também. E podia passar manhãs e tardes inteiras de volta delas. Até que a certa altura também me arrastava para a tarefa e eu achava tudo aquilo uma seca.

A minha mãe sempre teve plantas, na sala e na cozinha, e tapavam maior parte da luz. Eram enormes e eu não lhes achava piada. Sobretudo quando ela entrava em pânico cada vez que íamos de férias e tinha que arranjar alguém para ficar a cuidar das plantas. Não podia brincar descansada, porque se acabasse por ir contra as plantas sem querer - eu ou qualquer objeto voador não identificado - a casa ia abaixo e a minha mãe chateava-se a sério! Tudo isto me parecia exagerado, até quando a minha tia fazia anos. Ao invés de oferecermos uma prenda gira e interessante, lá ia a minha mãe procurar bonsais comigo às lojas - sempre que não eram bonsais teria que ser outra planta qualquer -, como se os parapeitos das janelas fossem infinitos e coubessem lá todas as plantas possíveis. E sim, até hoje, o parapeito da janela da minha tia está atolhado de plantas, mas agora já percebo o porquê.

Há coisa de um pouco mais de dois anos, juntei-me com uma pessoa que é amante da natureza e que gosta imenso de plantas. Na altura fiquei do género "ok, a sério? Só me faltava mesmo mais alguém obcecado por plantas.", mas nós mudamos, certo? E é essa a magia da coisa, a vida vai-nos mostrando o que não compreendemos et voilá, passamos a adorar algo que durante a vida toda não gostávamos por não compreender.

Aprendi a mexer na terra, para apoiar os gostos e interesses do meu namorado, e não me mostrei convencida mas até estava a gostar! Plantei as minhas primeiras plantas - foram sebes - e vi-as crescer ao longo do tempo, e senti-me como uma mãe. Comecei a habituar-me a ir a viveiros e às feiras e mercados procurar plantas e árvores. Podia escolhê-las à vontade, se fosse para cuidar delas. Depressa se tornou hábito irmos às livrarias comprar livros de agricultura, horticultura biológica, jardinagem e coisas do género. Até eu começava a gostar de ir para a secção de livros técnicos e procurá-los.

Sem querer, e sem dar muito por ela, comecei a perceber um bocadinho de plantas e a olhar para as plantas que as pessoas tinham em casa. Reparo nas plantas quando passo pelos parques e tento sempre saber quais são. Hoje, eu e a minha cara metade vamos muito ao mercado e fazemos um esforço enorme para resistir a não trazer de lá outra erva aromática para a coleção que se encontra enorme na varanda dele.

No entanto, não acho piada às pessoas que vão à florista encomendar buquês. Tudo bem em oferecer bonsais, e outras plantas em vasos bonitos, mas flores que são colhidas e apenas estão vivas durante pouco mais de uma semana não me faz sentido. É natureza morta.

Acho que me tornei, sem querer, numa apreciadora de tudo o que provém da natureza, enquanto que antes não percebia esse mundo. Todo o ser humano sente necessidade de estar em contacto com a natureza - senão agora, um dia -, e ter plantas é mais um bocadinho de magia que podemos ter em casa, pedaços de provas de que existem coisas bonitas de se ver e que não têm explicação.


ps. Por favor, não colham as flores. Elas pertencem à natureza e não a uma jarra. Se gostam delas, deixem-nas estar. Se por ventura queriam mesmo mesmo mesmo aquela flor na vossa casa, comprem sementes e plantem num vaso, terão imensas cheias de vida que podem durar anos. 

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  1. Tenho uma publicação em stand by sobre isto também. Tiraste-me as palavras da boca, sabes?
    Eu amo plantas... mas plantas vivas! Faz-me pena e imensa confusão ver ramos de flores porque sei que não viverão mais. Foram colhidas para um mero efeito estético momentâneo, ao invés de poderem viver a sua vida com o ar, o sol, a terra e a água!
    Um beijinho, querida Joana*

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  2. Nem mais ❤️ um beijinho querida Carolina

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  3. Gosto muito da natureza e respeito muito o seu tempo porque os seus sons são os únicos que até hoje me conseguem deixar calma e dar paz de espírito. Mas não sou "doida" por plantas, apesar de concordar contigo em relação ao facto que mais vale plantar e ter num vaso do que apanhá-las e pô-las numa jarra. O objetivo torna-se tão irónico pela contrariedade que carrega - se queremos enfeitar a cada para dar um ar mais fresco e alegre, não será com plantas mortas que se conseguirá! Concordância à parte, prefiro as sensações da natureza à necessidade física dela. Gosto de a procurar e ir ao seu encontro quando preciso - faz-me sentir que tenho algum propósito na vida.

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  4. Cada texto que escreves é um lufada de ar fresco ❤️

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