
Não sei se vocês já chegaram lá, mas estou naquela fase da minha vida em que não sei o que ando a fazer. Há fases em que nos questionamos acerca de todo o nosso conceito de existência enquanto seres humanos neste mundo - acerca do que queremos fazer, que curso escolher, se esse curso vai ter saída profissional, que emprego se adequa minimamente a nós e ao que queremos fazer durante muito tempo da nossa vida, entre outros (porém estes são as questões que nos fazem a cabeça em água).
Eu adoro estudar. Admito e vejo todo o potencial nesta fase de estudante universitária, no entanto não digo que isto de ser estudante a tempo inteiro - ainda para mais para quem trabalha também - seja fácil porque não é. Ajuda se realmente gostarmos do que fazemos e se isso nos fizer levantar da cama de manhã, por muito que custe. Mas acho que a dada altura, até do que realmente gostamos temos dúvidas. O que vos posso dizer é que é completamente normal. É bom questionarmo-nos em relação ao que fazemos, estamos em constante mudança e, se hoje já não gostarmos do que gostávamos ontem é normal, temos tempo para nos conhecermos a nós próprios e aprender o que, inconscientemente, no envolve e fazemos por gosto (e muitas das vezes até por hobbie). Porém não é saudável chegarmos à conclusão de que já não gostamos daquilo que julgávamos gostar para o resto da vida, mas que hoje já não nos faz sentido, e continuarmos a lutar por isso - no entanto não tomem decisões precipitadas! - estão a ver o estado da minha cabeça nos últimos tempos?
Vou-vos pôr a par da situação: no secundário eu não sabia o que queria, sabia que não tinha queda nenhuma para matemática e tudo o que envolvesse números (lá se foi o sonho de ser veterinária!). Os meus pais tomaram o partido de me colocar num curso profissional com bastante saída já que, a uma semana do término das candidaturas, eu ainda não me tinha decidido: Comunicação, Marketing, Relações Públicas e Publicidade. Foi interessante e com isto pensei que talvez devesse ficar ligada ao marketing futuramente para construir o meu percurso profissional. Não quis ficar pelo ensino secundário. Mais tarde descobri que design não tinha assim tanta matemática como eu pensava (trabalhei em design gráfico no secundário) e agarrei essa oportunidade de me fazer valer numa área de artes - coisa que sempre quis, mas que nunca julguei ter jeito. Entrei na Universidade Lusófona em Lisboa e adorei todo o percurso que fiz. Em todas as cadeiras a minha reação era "uau, eu adorava explorar isto naquela disciplina favorita do secundário" - e em breve todas as cadeiras seriam as minhas cadeiras preferidas - tirando geometria descritiva. Descobri no segundo ano que já estava farta de fazer design gráfico, e que era muito mais giro explorar os materiais e fazer projetos relacionados com produtos, então quis seguir o ramo de design de equipamento. No entanto, a coisa deu para o torto e a direção da coordenação mudou e, entre outras coisas más que fizeram, a vertente de equipamento no curso foi eliminada. Foi então que desisti daquela faculdade e mudei para a Faculdade de Arquitetura em Lisboa, onde estou a estudar atualmente. E eu lidei com a situação como toda a gente: escola nova, pessoas novas, começar do zero. Até cheguei a ir às praxes para me integrar mais, e adorei! Mas é chato quando estudamos durante 2 anos algo que adoramos e que, no entanto, nos vemos a estudar novamente as mesmas coisas (mesmo com equivalências), com novos métodos de ensino e de trabalho, num ambiente desconhecido, fora da nossa zona de conforto. Demora a ingerir tudo isto e a processar cá dentro tudo o que está a acontecer e, que vou ter que estudar novamente durante 3 anos. Ou seja, os outros 2 anos em que estudei design na minha 1ª faculdade não foram em vão, mas também descobri que graças ao facto de não me terem aceite algumas equivalências, há cadeiras que não vou conseguir fazer no tempo que tinha em mente. Então, mais 3 anos de licenciatura, aqui vamos nós!
É difícil. Eu gosto disto, gosto mesmo. Não estou a ver curso mais criativo e que nos dê mais livre trânsito do que este, nisto tive sorte. Porém, é fazer tudo de novo, quando hoje, se não tivesse mudado de faculdade, já estaria no último ano. E poderia continuar a tirar pós-graduações, mestrados, o que quisesse.
A vida troca-nos as voltas, e é difícil aceitar as voltas que ela nos dá, porque nunca vêm com aviso prévio e porque nos levam sempre, ou quase sempre, na direção oposta. Mas é por isso que somos o que somos hoje, pela escolha de que direção tomar quando a vida nos troca as voltas.
Ando em constante fase de aceitação, e isso custa, é difícil, e muitas vezes já nem tenho forças para me levantar da cama, nem as arranjo. Fico a vasculhar nas gavetas da minha cabeça algo que me dê ânimo para sair da cama e sair porta fora pronta para enfrentar o mundo.
Às vezes (muitas vezes) preciso de motivações extra, em especial por parte das pessoas, remexo em trabalhos antigos feitos por mim, lembro-me do meu objetivo, o porquê de querer este curso e em como quero ser útil e mudar o mundo à minha volta. Tudo isto parece tão cliché mas ajuda. O que também é cliché, é o facto de, quando estamos em desespero, completamente perdidos e desamparados, não nos lembramos de seguir os nossos próprios conselhos. Tudo é uma questão de tempo.

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Olha Inês, sabes... Cada vez mais tenho ouvido exemplos reais dizerem que não é preciso fazer escolha nenhuma. E eu concordo. Podemos fazer o que nos apetecer e ser tudo o que nos der na cabeça. Podes tirar artes e optares por querer ir para jornalismo, e no entanto praticares as duas áreas. Isto de escolher o que se deve fazer desde cedo e para sempre é uma treta, e não tem que ser propriamente assim. Vai fazendo as várias coisas que gostas, senão nunca ficas satisfeita. É assim que tenho andado a pensar. Eu não sei o que quero ser, mas sei o que quero fazer. Um dos fortes exemplos é o vídeo da Carolina Deslandes (em elefantedepapel.pt) e um dos últimos posts da Helena Magalhães. Um beijinho :)
ResponderEliminarAndo na mesma fase 🤦🏻♀️. Como custa! Escolheram-me (os meus pais) um curso que não gostava mesmo nada (Gestão de Equipamentos Informáticos), quando queria tirar Comunicação, Marketing e Relações Públicas. Estive sempre querendo desistir do curso, mas só de pensar que teria de estar mais 3 anos noutro curso profissional, tentava ao máximo levantar-me e ir para a escola. Não estudava e passava. À conta de não estudar, tive alguns exames para fazer. Alguns deles cheguei a pagar, indo à segunda fase (sendo que nunca cheguei à terceira). Depois da PAP e do estágio, pensei “finalmente está ganho! Tenho a equivalência ao 12.º ano” e afinal não. Presentearam-me com um exame à última da hora. Até então, não houve explicação para o aparecimento deste exame mas acredito que tenha sido uma “jogada do professor” visto que manda mais na escola do que o diretor (sim, infelizmente é esta a realidade). Pensei mesmo que não ia conseguir. À primeira não passei, correu super mal, a matéria já não estava em mente há imenso tempo. Da segunda vez, estudei tudo o que ainda me lembrava e fui. Coloquei na cabeça que ia passar e pedi mesmo com esperança. Consegui. Três dias depois da realização do exame já sabia que tinha o curso feito. E foi tão bom, sabes? Não falhei. Por mais que não gostasse do curso, não falhei nisto, como falhei em todo o resto. Não há mais uma falha para os meus pais usarem contra mim. Contudo, não estou de todo satisfeita. Ir para a universidade não está totalmente fora de questão, mas para já não. Vi um curso online de 700 horas + estágio de Comunicação e Marketing e se conseguir entrar no Estagiar T e ajuntar dinheiro, tirarei. (O curso necessita mesmo de 12.º ano - ou equivalência - ou licenciatura) Mas ando sem saber já. O que quero, o que gosto, será que vou conseguir trabalhar na área de comunicação e marketing? Depois tudo na minha ilha me desilude, as pessoas andam constantemente a desiludir-me e muitas vezes sinto-me perdida e sem propósito - que ainda, honestamente, não encontrei. Resumindo, ando perdida no meu próprio caos. Não saio de casa sequer, recuso-me muitas vezes a sair e só escrevo como escape. 😩 a ver se esta fase termina o quanto antes!
ResponderEliminarOlá Carolina! Aconteceu-me algo muito semelhante, sabes? Tirando o facto de gostar do curso e tu não, depois dos 3 anos no secundário, cheguei ao fim com um exame para fazer porque uma professora fez de propósito (até às desculpas que ela dava o admitiam, incluindo recusava-se a falar com os meus pais) e disse-me que podia passar à disciplina fazendo um exame e para não me preocupar que não iria chumbar. Resumindo, estive mais um ano a fazer uma só disciplina por causa daquela professora mesquinha. Mas ainda bem, porque senão teria ido logo para marketing, assim consegui ver que tinha hipóteses de ir estudar design. Nada acontece por acaso, não é? Também me sinto perdida, sinto que as pessoas me viram as costas e que não são verdadeiras, estou no mesmo barco que tu, no entanto, eu sei que é por estarmos em baixo que vemos que o mundo se virou contra nós, que é por não nos restar motivação para fazermos aquilo de que gostamos que parece que não andamos cá a fazer nada. Falta-nos isso.
ResponderEliminarA mim ajudou a desatar um nó :) vamos arriscar, Inês. Temos mais a ganhar do que a perder, só vivemos por aqui uma única vez
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