Sim, ainda sou uma criança

quarta-feira, 31 de outubro de 2018


É assim tão mau e fora da caixa, deixar a nossa criança interior viver? Quanto mais tempo passa mais eu acho que esta é a minha palavra favorita, assim como o seu significado - criança. Já falamos sobre isto, já vos dei um flashback acerca daquele tempo de quando somos pequenos só queremos ser grandes. Mas desta vez sinto que preciso exprimir todo este espírito infantil que tenho trazido comigo ao longo do tempo, que não se foi nem irá tão cedo.

Ainda tenho medo de fazer as coisas sozinha. Sabem aquele sentimento quando nos perdemos nos corredores do supermercado ou quando nos afastamos demasiado daquela zona do parque onde está a nossa mãe? Eu ainda vejo assim o mundo. Grande, imenso e mais parecido com um labirinto, onde cada esquina dá um medo danado mas parece que chama o nosso lado mais curioso e ingénuo, e então a gente vai, mesmo com medo. Houve dias em que me questionei se isto não seria demasiado, esta ingenuidade que tem andado comigo desde sempre e este nervoso miudinho em ter de descobrir o mundo sem ninguém a quem dar a mão e me dizer para onde ir. Mas ao mesmo tempo eu sou uma criança que gosta do seu espaço, sabem? Que não gosta de ninguém a dizer o que comer e a que horas me deitar, o que vestir e onde ir. É contraditório, acho que sou uma criança independente, curiosa e com medo.

Ainda não me habituei a esta moda de parecer gente grande já aos 13 anos, saber usar a maquilhagem sem borrar o batom, de cabelos penteados, unhas postiças e de corpo exaltado e exibido. Ainda sou aquela criança que se maquilha mas que depois não gosta, que se esquece de pentear e vai de cabelos enleados para a rua, que prefere as unhas pequenas porque dá mais jeito para tocar guitarra e para escrever, que gosta de camisolas largas e aos bonecos ou com padrões bonitos. Ainda gosto de peluches e de desenhar tudo o que me vier à cabeça, daquela maneira tão simples em que uma casinha é apenas um quadrado com um triângulo vermelho em cima. Ainda bebo o café nas canecas aos bonecos e às vezes apetece-me e escrevo com a letra da primária.

Não sei dizer se um dia vou conseguir enfrentar tudo o que o mundo adulto reserva sem esta sensação de gente pequena perdida nos corredores do supermercado. Mas prefiro assim, prefiro sentir que faço tudo pela primeira vez e que estou a crescer, embora continue criança. Esta é a minha maneira de ver o mundo, rindo alto e rejeitando os saltos altos por ténis, ser uma sem noção muitas das vezes e andar com a cabeça na lua, acreditar que as pessoas são boas e verdadeiras e que o mal só existe em filmes de heróis. Ainda acho que o mundo é um país das maravilhas sem ainda ter achado o tal buraco do coelho com pressa.


Don't grow up, it's a trap. 
- Peter Pan

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  1. Percebo perfeitamente o que escreves, por vezes também me sinto um pouco assim, mas acho que acaba por ser normal. Acho que todos todos temos a nossa criança interior, simplesmente há pessoas que o demonstram mais que outras.

    https://sixmilesdeeper.blogspot.com/

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    1. Olá Daniela! Bom saber que não sou a única, ahah
      Um beijinho

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  2. Descobri o teu blog e fiquei encantada! Este texto está maravilhoso e a citação ao Peter Pan conquistou-me por completo! Além de que as tuas fotografias são um espetáculo!

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  3. Sou tão assim, por isso, percebo muito bem o que dizes. Tenho a sensação de que as crianças agora querem todas crescer tão depressa, viver tudo junto e sem regras.
    Brinquei até aos meus 14 anos com bonecas e só me orgulho disso. Tento, desde sempre, preservar o meu espírito de criança e vou continuar a fazê-lo :)
    Beijinhos

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    1. Que bom saber que há mais gente assim, que não se importa de ser criança. Beijinhos Mary

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