Na estante: Eleanor Oliphant Is Completely Fine

sexta-feira, 30 de novembro de 2018


Eleanor é diferente. Aliás, ela pensa de maneira diferente. Pensa em todos os pormenores com os quais ninguém se importa e sonha alto todos os dias com acontecimentos aparentemente impossíveis. Assemelho-me tanto. Eleanor é gramaticalmente correta (com uma personagem assim, quem não ama, não é?) mas com o comportamento invulgar e fora dos eixos (não é o que estão a pensar). Bicho do mato, sabem? Como eu, também. Observa todo o detalhe do próprio pormenor e julga à primeira vista, como toda a gente. Olha-se ao espelho e julga-se um ser humano "aceitável", tirando a enorme cicatriz. Prefere poucas conversas e desenvolve raciocínios rápidos para sair de situações a que a levem a algum tipo de socialização. Sabe que o amor vem quando não o esperamos, mas mesmo assim prefere sonhar demasiado e exagerar - chega a vestir-se bem para que esteja apresentável quando a pizza que encomendou chegar - nunca se sabe quem nos vai bater à porta, não é? Todo o pequeno desvio da rotina é excitante mesmo que seja só ir comprar Tupperwares como qualquer adulto normal. Esquecer-se do próprio dia de anos e planear comprar umas meias novas ou um ramo de flores como presente para si própria já é uma atividade vulgar e anual.

Há um mistério intrigante em redor das páginas, que é saboreado ao longo do livro, descobrindo cada pedacinho da história de Eleanor, chega a ser um bocado assustador - e que história! Vamos sempre pensar que já desvendámos tudo, mas o mistério mantém-se até ao fim, e só no fim, mesmo nas penúltimas páginas, é que descobrimos realmente tudo. É caso para dizer que o que se espera não acontece e vice-versa. 

Falando do humor neste livro (parece que este livro tem tudo, não é?) passa pela inocência da consciência de Eleanor, e das comparações que faz das situações do dia a dia, que cada um de nós é bem capaz de o pensar também, sendo muitas delas tão ridiculamente simples que metem piada e chegamos à conclusão de que, este livro, é um "livro aberto" ao que muita gente pensa, diz, faz, acha ou sente retratado na personagem principal.

Acho que há uma Eleanor Oliphant dentro de toda a gente.

Ao começarmos a ler, vamos ficar do género "mas esta rapariga é louca?!" e não nos vai cativar à primeira - já falei com várias pessoas acerca do livro e disseram que também lhes custou o início da leitura, que não estavam a achar muita piada - mas não desistam, a história promete!

A história é puramente baseada em solidão, amizade e em pequenos atos de bondade. Deixo-vos aqui duas das Q&A (Perguntas e Respostas) feitas à autora Gail Honeyman que se encontram no fim do livro e que achei particularmente interessantes:

Qual foi a inspiração para criar Eleanor Oliphant - tanto a história como a personagem? 


A história veio da personagem. Há uns anos atrás, li um artigo de um jornal sobre a solidão. Incluía uma entrevista a uma jovem adulta profissional, que vivia numa grande cidade, onde confessou que, depois de sair do trabalho à sexta-feira à tarde, não falava com ninguém até regressar segunda-feira de manhã. Quando a solidão é discutida nos media, geralmente é abordada sobretudo aos idosos, então este artigo em particular chocou-me de alguma forma. Comecei a pensar sobre o quão difícil poderá ser, em qualquer idade, forjar relações importantes para nós, e imaginar os vários cenários que esta jovem adulta encontrou ao viver desta maneira, nestas circunstâncias. A partir daí, com o tempo, a história e a personagem de Eleanor Oliphant começaram a surgir. 

O que espera que os leitores retirem de A Educação de Eleanor?

Ao criar a história de Eleanor, queria focar-me em particular na importância da bondade, em como pequenos gestos podem transformar por completo, com a quantidade certa e no momento certo. Dito isto, cada leitor e cada experiência de leitura é diferente, e fico feliz por deixar ao leitor decidir o que retirar da história - para mim, é um prazer ser sortudo o suficiente por ter alguém que lê o meu trabalho. 


(traduzido por mim)


Vou, sem dúvida, voltar a ler esta história, sobretudo para me relembrar que há pequenas coisas pelas quais podemos estar gratos e viver com mais atenção aos pormenores, não precisamos de muito, apenas do essencial. Este é um livro que ganhou lugar no meu coração. 

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