Na estante: Desejos de Chocolate

sexta-feira, 7 de junho de 2019


Naquela manhã de fevereiro, quando baralhei as cartas macias e sedosas dos anjos e as deitei na mesa da cozinha, elas previram uma mudança,  mas também me asseguraram que acabaria tudo por correr bem; o que era uma grande melhoria em relação a ver-me frente a frente com o Enforcado ou a Morte durante o pequeno-almoço de cereais, e a tentar interpretar a sua leitura como algo um pouco menos carregado de maldição do que a impressão inicial.


Para começar, este é um livro de 2011, que li num daqueles verões em que tinha as hormonas aos saltos e em que comecei a namorar, mas as férias de Verão tinham-se tornado uma seca porque ficaria sem namorar durante umas semanas... E, segundo a minha mãe, este foi um dos livros que o meu pai me ofereceu - sempre encolhendo-os pelo título. Também me disse que barafustei imenso dizendo que o livro não prestava mas, na falta de algo melhor de se fazer, de férias no Algarve durante semanas que mais pareciam séculos, li-o "empurrando" a leitura pelas semanas fora e não percebendo nada da história porque, caso contrário, teria-o adorado e nunca me teria esquecido do que tinha lido.
Este livro fala sobre chocolate (em toda a parte), amores perdidos, mudanças, magia, bruxas, igrejas, aldeias pequenas, tarôt, anjos e amor encontrado.

"o amor encontrará um caminho"

Mas deixem-me dizer que a autora enrola muito, depois nos últimos capítulos a história começa a avançar toda muito depressa e a tradução para o português não é tão floreada assim, mas isso não é o pior. O pior mesmo é aquela sensação de querer saltar parágrafos que estão só ali para encher. Acho que esse é um dos grandes defeitos das grandes autoras que fazem romances como quem faz bolos instantâneos de microondas: enchem muito os livros de passagens que não interessa assim tanto e enrolam imenso de modo a que, no final, aparecem com grandes calhamaços nas livrarias. (Isto é a minha opinião, não querendo ofender ninguém, afinal, eu li este livro e outros de autoras de sucesso com romances aos montes e gostei)

Mas sabem aqueles romances quentinhos e aconchegantes? Este fez-me sentir que era um desses. Embora nos enrole muito e nos atire com todo um final feliz nos últimos capítulos, é delicioso. Gostava mesmo de vos fazer comparações mas não estou a ver nenhuma que não evidencie o que acontece no livro, e assim já não ficariam surpreendidos com o desenrolar da história.

Bom, mas envolve amizades duradouras, coisas que não acontecem nada por acaso, rituais pagãos e vigários que nos surpreendem, como o tarôt está sempre certo e como a vida e a nossa perspetiva sobre ela pode mudar de um momento para o outro. Isto é como se fôssemos a ver a vida como ela é, mas do lado de fora, em que, quando tudo nos corre mal parece não haver emenda, mas depois fica tudo bem e a vida sorri de todos os lados. E a vida é este ciclo, de coisas boas e de coisas más, e de coisas que nunca acontecem por acaso.

Fala de religiões como o paganismo (bruxaria, religião Wicca) e cristianismo, e "como ao longo dos tempos e através de diferentes culturas, chegaram a Deus, não pode ser uma coisa má, certo?" mostra tanto esta harmonia e da aceitação da cultura do outro e de como ambas se entrelaçam, como se pode ter, simultaneamente, um pentagrama e uma cruz pendurados ao pescoço no mesmo fio, e como se pode, simultaneamente, acreditar em anjos e fazer orações de origem Maia sob caldos de chocolate ao lume.

Acredito que tudo vem num propósito e no tempo certo, este livro veio-me parar às mãos, uma vez mais, num período de debate interior e a transmitir-me mensagens bonitas sobre as quais sempre tive curiosidade. Lembrem-se que, sempre que tiverem um livro na mão, ele está prestes a ensinar-vos o que vocês terão que aprender, no tempo certo.

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  1. Não conheço este livro e acho que nunca ouvi falar.
    Mas confesso a curiosidade que se despertou em mim, agora, depois de ler-te aqui.

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