Quero falar-vos das praxes e do espírito académico

Quero falar-vos das praxes e do espírito académico. Em como todo um grupo de pessoas consegue fazer coisas bonitas, ainda com bebedeiras, asneiradas e badalhoquices. Escrevo este texto acabada de ser batizada na fonte em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, de cabelos encharcados e alma lavada, com 4 horas de sono em cima e uma nova família no peito. Quero que saibam que, ainda há 2 anos - quando iniciei o meu percurso académico -, eu era contra as praxes, não percebia o porquê de tanta humilhação à caloirada e Deus me livre se na altura tivesse sido praxada. Mas isso era noutra faculdade. Este ano entrei para a faculdade de arquitetura - e digo-vos desde já, a melhor do país! - e foi onde soube o que "ser recebido de braços abertos" quer realmente dizer. E no meio de tanta asneirada e badalhoquice que é a praxe, há coisas bonitas. Não tem nada a ver com humilhação, vergonhas ou abusos. Tem a ver com amizade, quebra de tabus e de receios, abraçar o desconhecido, aceitar brincadeiras alheias, risos de fazer a barriga doer, esganar a voz até não a ter, cantar e gritar com fé. É sobre todos os gritos e canções que caloiros e veteranos cantam com a alma aos berros de tanto orgulho, sobre o afinco que se ganha no meio da multidão que antes nada nos dizia e que de repente diz-nos tudo, é sobre os laços que se cria entre pulos e amassos, t-shirts mergulhadas em molhos e cabeças cobertas de ovos. É também sobre a tensão da escolha dos padrinhos e dos pedidos memoráveis aos mesmos, sobre o momento mágico que é o batismo e sobre todas as promessas que ficam feitas. Sobretudo, é sobre união, a voz uníssona de centenas de pessoas diferentes e o sentimento do quão bom é fazer parte disto. É sobre uma vibração boa que chega de repente, e que provavelmente fica para sempre.