Quando somos pequenos só queremos ser grandes

Quando somos pequenos só queremos ser grandes. Só pensamos em crescer com a inocente expetativa de que o tempo não se esvai, de que a vida é longa demais durante as aulas e de que a vida é bem melhor vista de um ponto de vista mais alto, sem precisarmos de banquinhos para chegarmos ao armário das bolachas. Quando se cresce apenas se perde a essência da vida que apenas se vê com a inocência de quem acaba de chegar ao mundo e ainda tem tudo por descobrir.

Num dia estamos convencidos de que a única coisa de jeito para se ver na televisão são desenhos animados - nos quais vale a pena acordar mais cedo para ver - e de que nunca na vida iremos ver outra coisa, no outro já damos por nós a trocar os desenhos animados por séries que nada nos acrescentam ou por filmes que distribuem pancadaria e tiroteio a torto e a direito.

Ainda ontem rejeitavamos as papas que nos davam à boca, e hoje subtraímos do supermercado mais próximo uma ou outra embalagem de Nestum para relembrar aquele sabor da infância.

Antes olhava para o espelho com esperança de que as ondinhas nas pontas dos dentinhos desaparececem e ficassem perfeitos como os dos adultos, ou que começasse a crescer o peito para poder usar sutiã para me sentir uma verdadeira "mulherzinha". Antes ansiava o dia em que poderia usar salto alto, mal eu sabia que não me ia aguentar neles e iria preferir andar de ténis a vida inteira.

Antes queria ser grande para poder gastar as minhas moedas como quisesse, para poder comer o que quisesse e para me deitar quando quisesse. A vida de adultos soava a liberdade e à frescura que a vida tem a oferecer.

Mal sabia eu que quando fosse grande iria ser pequena outra vez.